Publicado por José Geraldo Magalhães Jr. em Notícias, Capa, Atualidade - 27/08/2019 às 14:36:44

Um Voz que encanta: revista completa 90 anos de circulação no Brasil

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No ano de 1929, houve uma grande depressão econômica mundial, cujo início foi marcado pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Quando caminhamos com Deus, Ele nos manda olhar para o céu e contar as estrelas. Para as mulheres metodistas foi um momento especial: em 18 de setembro nasceu, na cidade de São Paulo, a revista Voz Missionária. O número 1 da revista foi impresso no primeiro trimestre de 1930.

Um grupo de mulheres, líderes em suas respectivas Federações das antigas Sociedades Metodistas de Senhoras (hoje Sociedade Metodista de Mulheres) representando-as, conforme as suas Regiões Eclesiásticas (Norte, Centro e Sul do Brasil), reuniu-se na Igreja Metodista Central em São Paulo para tratar de um assunto – um sonho – de grande importância para as atividades daquelas Sociedades espalhadas por quase todo o país, a criação de um órgão centralizador dos seus trabalhos: uma revista! Eram elas: Eula Kennedy Long, presidente da Federação do Sul, e Mercedes Seabra, secretária; Lídia W. da Silva, presidente da Federação do Centro, e Gláucia W. Duarte, secretária; sendo assessoradas por Leila Epps, missionária e inspiradora daquele sonho. A revista deveria ser o elo entre todas as Sociedades e a fonte de informação e de inspiração para todos os trabalhos das mulheres na Igreja. 

O nome
O nome Voz Missionária foi sugestão de Ottília Chaves, que se inspirou na revista norte-americana “The Missionary Voice”. Segundo ela, seu nome está ligado ao “ideal missionário da mulher metodista, tendo por missão a propagação do Evangelho, a divulgação de conhecimentos, de orientação, de educação, levando a todos mensagens edificantes”. A revista nasceu com o nome A Voz Missionária. Alguns anos depois o “A” foi suprimido.

Ottília informou, também, sobre o clima da criação da revista: “estas mulheres, apesar de entusiasmadas, sentiam certo alvoroço em seus corações, porque não havia recursos financeiros suficientes e nem podiam prever a reação das mulheres diante da revista”. 

A concretização deste sonho foi uma decisão de fé, pois o grupo não dispunha de recursos financeiros nem previsão de como as mulheres a receberiam. Decidiu-se que, inicialmente, a revista sairia a título de experiência, com mil exemplares, de 12 páginas, destinando-a também às jovens e com uma seção infantil. Esta edição saiu no primeiro trimestre de 1930, com os recursos financeiros de Miss Leila Epps – que sonhou e investiu no seu sonho, arcando com as despesas da primeira edição da revista. As assinaturas vieram devagar e, no ano seguinte, a revista contava com 630 assinaturas.

Agente local
Uma grande inspiração foi o segredo do seu rápido crescimento: criou-se o cargo de agente local da revista, agora “Voz Missionária”, sem o “A” que antecedia. A ascensão da revista foi rápida. Houve pequenas crises, como no pós-guerra, porém, debeladas. Chegou ao seu clímax em 1959 com 75 mil assinantes, tendo na redação Ottília Chaves e, como Agente Nacional, Zaida Guerra. Uma curiosidade: nos dez anos iniciais da revista o preço da assinatura não mudou! 

Com o passar dos anos, a revista cresceu em número de páginas. Suas capas coloridas e a diversidade dos assuntos acompanharam o progresso da época. A revista passou a contar, a cada edição, com a dedicação de colaboradores e colaboradoras. A Voz Missionária tem caminhado passo a passo com a Igreja Metodista, como elemento indispensável de união entre as mulheres no seu trabalho na igreja local, na Sociedade de Mulheres e nos lares. 

Percalços do caminho
A caminhada da revista não foi um “simples passeio”. Em toda jornada há dificuldades, tropeços, quedas, estagnação, revigoramento. A fase mais difícil foi em meados de 1980, quando o número de assinantes caiu assustadoramente. Cenário de crise no país.

Vários fatores concorreram para isso. Entre eles, o surgimento de várias revistas evangélicas femininas de outras denominações. A Voz já não estava sozinha. Outro fator da decadência – bem mais grave – foi a inserção de ideologias políticas nos periódicos da Igreja Metodista.

A Confederação das Sociedades Metodistas de Mulheres fez uma grande pesquisa a respeito e foi comprovada a rejeição das assinantes ao material contido na revista, inclusive de suas capas, coerentes com o pensamento ideológico vigente. Não havia autonomia por parte da redação. O trabalho de capa, diagramação, ilustração era todo feito pela Imprensa Metodista – responsável pela produção dos materiais da Igreja.

Grupo de Trabalho
Em 1991, foi indicado um Grupo de Trabalho Provisório para dar prosseguimento às edições da revista, devido ao pedido de demissão da antiga redação. Fizeram parte deste grupo: Milza Suely F. Araújo, Eny Cannet Morais e Wanda Moraes, que deram tudo de si para a continuação da revista. Em 1991, o Colégio Episcopal indicou como nova redatora Tirza Martins Ribeiro. Quando ela assumiu a redação, não havia mais nenhuma assinatura, conforme informação do Editor Nacional, Clovis Pinto de Castro. A Imprensa Metodista apenas editava a revista e enviava para as igrejas. Não havia nenhuma infraestrutura, nem local para trabalhar.

Foram tempos muito difíceis, mas com a colaboração de vários irmãos da Imprensa, do ex-interventor Célio Silva, conseguiu-se uma sala, uma mesa, depois um telefone e, enquanto não se tinha uma máquina de escrever (a informatização iniciava seus primeiros passos) “eu trazia a minha máquina de casa”, afirma Tirza. Mesmo dispondo de tão pouco, com a ajuda da Confederação e das Federações das Sociedades de Mulheres, Conselheiras de Redação e com o inestimável trabalho das Agentes Locais, as mulheres foram conclamadas à luta e, aos poucos, tudo foi se transformando, como o nascer do Sol após uma noite escura. A luta foi constante, sem trégua, sem esmorecimento, vencendo uma a uma as barreiras que se antepunham ao renascer da Voz. O número de assinantes foi aumentando dia a dia e a credibilidade e o carisma da revista revitalizados.

Uma barreira
Uma barreira bem grande surgiu nesta nova caminhada. No dia 10 de março de 1994, convocados pelo Colégio Episcopal, compareceram à reunião na antiga Sede Nacional da Igreja, Chácara Flora, SP, a Confederação das Sociedades de Mulheres, nas pessoas de Milza Suely F. Araújo (presidente em exercício da Confederação), Lydia Dolira Soares de Oliveira e Marlussi S. Rosa Guimarães; a redatora da Voz, Tirza Martins Ribeiro, pelo Conselho de Redação, Walderez S. Almeida Prado; pelo Conselho Diretor da Imprensa Metodista, David Nelson Betts, Helerson Bastos Rodrigues e Renato Fleischnner; secretariando, o Rev. Aluísio F. de Siqueira. Bispos presentes: Paulo Tarso de O. Lockmann e Nelson Luiz Campos Leite.

A finalidade da reunião era comunicar que o Conselho Diretor da Imprensa Metodista decidira não mais continuar a publicação da Voz MissionÁria, alegando não ser a revista autossustentável.

O Colégio Episcopal nomeou um Grupo de Trabalho, composto pelo Bispo Nelson Luiz Campos Leite, pela jornalista Léia Alves de Souza e Tirza Martins Ribeiro, para oferecer sugestões e perspectivas para a continuidade da publicação da revista. Este Grupo decidiu que a revista iria continuar, por não se admitir que a revista, de inegáveis contribuições à causa da mulher metodista e da Igreja, “viesse a ser tolhida em sua caminhada em favor da missão”. No comunicado da revista sobre estes acontecimentos, Tirza afirma em nome da Redação: “Temos que caminhar sozinhas, mas o Senhor vai conosco. Temos que dobrar nossos joelhos diante do Eterno, pedindo-lhe força e coragem. É preciso que nos disponhamos a trabalhar. Oração e ação deve ser o nosso lema. Creio que Deus está nos apontando – a obra é de vocês, mulheres! Conto com todas. Caminhem!”.

Mudança de Sede
A Sede da revista teve que mudar, pois o prédio que a abrigava, na Sede Nacional, foi desativado. A Sede da Voz transferiu-se para São Bernardo do Campo; posteriormente, para as dependências da Igreja Metodista no bairro em Rudge Ramos – onde está até hoje.

“Para que esta Voz não se cale”
Acredito, leitoras e leitores, que tudo isso não foi nem barreira, mas uma montanha. Pensaram que as mulheres não a ultrapassariam?
Milza S. Araújo, em seu manifesto às mulheres, publicado na Voz do III trimestre de 2004, como presidente da Confederação, afirmava: “Que diremos, pois, a estas coisas? Desanimar? Desistir? Nunca!”.
A reação foi imediata, tão logo as notícias chegavam. A redação lançou o slogan: “Para que esta Voz não se cale” – inspirada em uma faixa feita pela Sociedade de Mulheres em Volta Redonda.
O resultado foi maravilhoso! Todas juntas: Redação, Confederação, Federações das Sociedades de Mulheres e Agentes se arregimentaram, lutaram e venceram. A resposta veio com novas assinaturas, aproximando-se, na época, a 11 mil assinantes.

Evolução
Conforme a evolução dos tempos e dos costumes, também a Voz acompanhou essas transformações para melhor atender aos seus leitores e leitoras. Assim, a revista assume seus aspectos modernos, abordando temas de interesse geral. É uma revista com objetivos claros, formadora de caráter cristão, com visão e perspectivas atuantes, por meio de reportagens, artigos variados, pastorais, crônicas, entrevistas etc., dentro do contexto religioso, lazer e cultura.

Resistência
A Voz é um patrimônio da Igreja Metodista e das Sociedades de Mulheres. Que as mulheres saibam manter o destemor, a fé, sem desânimo, para que “esta voz nunca se cale”. Que a nossa Igreja veja nesta revista um de seus melhores pontos de identidade, portanto, merecedora de respeito e de carinho.

Voz atual
Dando continuidade ao trabalho de ressurgimento da revista, desde o III trimestre de 1996, assumiu a redação Déa Kerr Affini que, juntamente com o antigo Conselho de Redação, deu continuidade a esta missão tão digna. A infraestrutura e o local de trabalho foram definitivamente implantados.

A revista tem evoluído; tornou-se uma revista bimestral. O período de três meses era muito longo. Agora, existe uma proximidade maior entre as edições. Ganhou cor nas suas páginas e passou a trabalhar com temas. Os/As colaboradores/as, o conselho de redação e a redação têm buscado produzir textos atuais e edificantes que tornem a revista mais atraente, bela e inspiradora.

Olhando para o futuro
Somos todos/as responsáveis pela continuação desta revista. Seu moto foi alterado para “Inspirando vidas”. Por meio de suas páginas, a revista Voz Missionária tem inspirado e iluminado vidas e compartilhado palavras de salvação e vida. Que possamos continuar a transmitir às gerações futuras o apreço e o carinho pela revista.

Trazer à memória
Trazemos à memória os nomes das redatoras da revista: Leila Epps, Marta Romano, Juanita Campos, Ottília Oliveira Chaves, Eny Moraes Canet, Alice Lábaki, Tirza Martins Ribeiro, Déa Kerr Affini e, a atual, Amélia Tavares C. Neves. 

Que essa Voz nunca se cale
O que desejar à Voz Missionária nos seus 90 anos? Que essa revista continue inspirando e alcançando vidas com suas mensagens impressas de salvação e vida. “Que essa Voz nunca se cale”.
“Noventa anos de Voz evocam ramos de saudade, perfumam estantes, entrelaçam gerações, saúdam os peregrinos convidados pela sua leitura a tornarem-se navegadores, combatentes cristãos do bom combate”. “Que a Voz possa continuar deixando um ‘rastro’ perfumado, perfume de vida para vida, no encanto de suas páginas que contaram e contam parte significativa da história da mulher metodista brasileira”. 

Pra. Amélia Tavares
Redatora da Revista

Com a inspiração de textos publicados na revista

Publicado originalmente na edição de setembro do Expositor Cristão


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