Publicado por José Geraldo Magalhães em Artigo - 30/09/2019 às 12:35:27
Projetos sociais ajudam crianças que sofrem violência doméstica a superar os traumas
Lúcia Leiga de Oliveira | Belo Horizonte
Um projeto social nasce primeiramente de uma necessidade percebida, sentida e torna-se real pelo compromisso de pessoas com a transformação deste contexto. Para o povo metodista, no desenvolvimento de sua espiritualidade, duas atitudes devem estar presentes: atos de piedade e obras de misericórdia. Diante, de uma situação que contraria a proposta do Reino de Deus, as obras de misericórdia podem ser organizadas em projetos sociais.
A Igreja Metodista no Brasil declarou por meio do Plano de Vida e Missão que a educação das crianças deve receber especial atenção, e principalmente aquela voltada para as camadas mais pobres. Surge, então, a necessidade de intensificar, no Plano de Ação Missionária, projetos sociais de atenção integral às crianças e aos/às adolescentes.
As crianças e adolescentes são vulneráveis a vários tipos de violência, como: física, psicológica, sexual, tanto na família como na escola, nas ruas, nas igrejas. No Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019) consta que 53,8% dos 66.041 registros de violência sexual foram de crianças e adolescentes até 13 anos. A casa nem sempre oferece o convívio familiar que a criança/adolescente precisa para um adequado desenvolvimento físico, emocional, espiritual, social e intelectual.
Na convivência com as famílias dessas crianças e adolescentes, observam-se as mais diversas situações familiares. Estas expressam uma relação na qual os seus membros, por diversos motivos, não desenvolveram condições e valores que os ajudem no atendimento das necessidades básicas, afetivas, educacionais e morais para a convivência familiar.
Entre as primeiras atitudes que os/as educadores/as devem ter é entender, enquanto agentes sociais no projeto, que a prática da violência contra as crianças/adolescentes, em qualquer situação, é um desrespeito à vontade de Deus e sentir o chamado para afirmar a responsabilidade cristã pelo bem-estar das crianças e adolescentes. Outras ações se fazem necessárias: promover a capacitação dos/as educadores/as em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA e a todas as políticas públicas de proteção integral à criança e ao adolescente; envolver as famílias em ações que visem informar sobre as necessidades das crianças e dos/as adolescentes, esclarecendo seus direitos e normas de proteção; favorecer a vinculação das famílias em uma rede de apoio da comunidade (unidade de saúde, associação de bairros, grupos religiosos, grupo de mães); facilitar o acesso aos serviços de educação e assistência; contribuir para o fortalecimento dos laços das crianças e dos/as adolescentes com a família e amigos/as; organizar grupos de debates com profissionais de outras áreas envolvidas.
Na relação com as crianças/adolescentes é fundamental ter uma escuta atenta; ao perceber os sinais de possíveis violências, deve-se conversar com a criança/adolescente em um local com privacidade, facilitando o diálogo com perguntas abertas. Por exemplo, “como você está se sentindo?”. Deixe que fale livremente e escute sem demonstrar horror ou revolta. Evite pedir para repetir algo que já falou, mostrar ansiedade e fazer julgamentos. Nessa oportunidade, explique que ela não deve se sentir culpada e que quando quiser conversar pode procurar você. Procure não fazer perguntas para os pais ou responsáveis e principalmente checar com pai ou mãe alguma informação dada pela criança/adolescente. Evite fazer comentários dessas escutas e observações.
Uma grande consequência para o crescimento integral da criança/adolescente que vive situações de violência doméstica é o desenvolvimento de uma autoestima inadequada. Este é um dos aspectos que podem ser trabalhados de forma significativa pela equipe do Projeto. Para desenvolver uma autoestima adequada toda criança/adolescente necessita se sentir amada, valorizada e sentir-se parte de uma família, de um grupo, sentir-se aceita. Esta deve ser a proposta de trabalho de todo projeto que atende crianças/adolescentes.
Todo projeto social precisa se envolver com as ações positivas na comunidade onde atuam, para formar parcerias visando um bom atendimento às necessidades apresentadas pelas crianças/adolescentes. O Centro de Saúde e o Conselho Tutelar podem contribuir muito no trabalho que deve ser realizado com as famílias e no atendimento às crianças/adolescentes.
A violência doméstica com crianças/adolescentes é uma realidade e é uma responsabilidade de todos nós. Quando um projeto social reconhece que a criança/adolescente é violentada/o, é preciso denunciar. De forma sigilosa procure o Conselho Tutelar que atende na comunidade, e se não houver conselho em sua comunidade, procure a Vara da Infância e da Juventude. A parceria com o Centro de Saúde é um caminho adequado. Geralmente as crianças são atendidas ali e os/as profissionais sabem como dar estes encaminhamentos.
Publicado originalmente na edição de outubro de 2019 do jornal Expositor Cristão
*Reprodução parcial ou integral deste conteúdo autorizado desde que seja citado a fonte conforme abaixo:
[Nome do repórter], Expositor Cristão (Edição outubro de 2019)