Publicado por Redação em Notícia, Nacional - 29/04/2016 às 15:05:41
Os desafios de viver a missão integral
Missão integral. Provavelmente algumas pessoas não sabem o que significa, mas, na vivência cristã, muitas igrejas a praticam sem necessariamente usar essa expressão para referir-se ao que estão fazendo. São atividades voltadas para dependentes químicos, pessoas que moram nas ruas, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, povos indígenas, entre tantas outras.
Um dos renomados teólogos latino-americanos, C. René Padilla, mostra em um de seus livros, “O que é Missão Integral?”, que uma igreja que se compromete com a missão integral entende que seu propósito não é chegar a ser uma igreja grande, com muitos recursos financeiros ou politicamente influente, mas, sim, humanar-se nos valores do reino de Deus e revelar-se no amor e na justiça, tanto em âmbito pessoal como em âmbito comunitário.
Para o pastor Dimanei da Silva Lisboa, que trabalha na aldeia Maruwai com os Macuxi, em Boa Vista/RR, missão integral tem a ver com o Ide de Jesus. “A primeira coisa é atender ao Ide de Jesus, e isso implica em renúncia. O Ide indica que somos nós que temos que fazer, assim foi na multiplicação de pães: dai vós mesmos/as de comer”, disse o pastor.
Missão integral com os povos indígenas
Desde 1991 que o Censo Demográfico coleta dados sobre a população indígena no Brasil. O Censo 2010 contabilizou a população indígena com base nas pessoas que se declararam indígenas no quesito cor ou raça e para os/as residentes em Terras Indígenas que não se declararam, mas se consideraram indígenas. O Censo revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas, 572 mil, ou 63,8%, viviam na área rural, e 517 mil, ou 57,5%, moravam em Terras Indígenas oficialmente reconhecidas.
Como o Expositor Cristão já noticiou em edições passadas, a Igreja Metodista se converteu às causas indígenas desde 1928 (veja edição de abril de 2015). Agora, além dos povos Tremembé, em Fortaleza/CE, Macuxi, em Boa Vista/RR, e Guarani-Kaiowá, em Dourados/MS, a etnia Maxakali também está sendo priorizada na missão metodista indigenista.
O missionário Gilson Clemente da Costa, da 4ª Região Eclesiástica, está há dois anos à frente do trabalho com os/as índios/as Maxakali. “Comecei com uma aldeia que tem lá em Topázio. Nessa aldeia tem 72 índios/as da etnia Maxakali. Há outra aldeia próxima a Teófilo Otoni, chamada Mata Verde, que tem 300 índios/as”, disse o missionário.
Somente em Minas Gerais são 31.667 índios/as, segundo o Censo 2010. Dentre eles/as, 1.937 são da etnia Maxakali, que está dividida em quatro tribos. Além de Pradinho, há Água Boa, já no município de Santa Helena, até onde vai a reserva indígena. Também ficaram raízes em Topázio, distrito de Teófilo Otoni, e em Ladainha, no Vale do Mucuri. Em qualquer lugar, os/as Maxakali enfrentam o mesmo problema: alcoolismo.
Neste mês de abril, o missionário irá expandir seu campo missionário para a aldeia Mucuri. “Eles/as estavam perdidos/as; a maioria foi morta por fazendeiros/as que tomaram suas terras. Hoje, eles/as somam um número de 17 famílias. Ainda não conheço essa aldeia, mas no mês de abril estarei lá”, afirmou o missionário.
Os/as poucos/as índios/as que não foram dizimados/as ficaram trabalhando em fazendas ou na cidade. Depois eles/as entraram na justiça reivindicando a posse da terra que a Fundação Nacional do Índio (Funai) já reconheceu. Segundo o missionário, o trabalho principal desenvolvido nas aldeias tem autorização da Funai. “Antes de entrar nas aldeias, nos reunimos com os/as representantes da Funai, que nos autorizaram a realizar nossa missão. Nosso primeiro encontro foi um estudo sobre os malefícios que o álcool faz às pessoas”, relatou.
Os/as Maxakali enfrentam hoje o grande desafio de superar as dificuldades decorrentes de sucessivas administrações autoritárias, o que tem refletido nos graves problemas de embriaguez, desajustes sociais e marginalização econômica. O missionário Gilson destacou que já recebeu, na Igreja Metodista em Topázio, um grupo de 12 índios/as de uma só vez devido ao trabalho que está desenvolvendo nas aldeias.
Missão integral com pessoas em situação de rua
Em janeiro deste ano foi inaugurado o Instituto de Apoio e Orientação a Pessoas em Situação de Rua (Inaper), em Belo Horizonte/MG. O projeto foi idealizado pela Igreja Metodista em Carlos Prates. “Trabalho com pessoas em situação de rua há 20 anos. Levar o evangelho é fundamental, mas queríamos fazer algo além disso. Com o projeto estamos realmente integrando as pessoas à sociedade. Isso é missão integral”, disse o pastor Roberto Lugon.
A presidente do Inaper, Angelica Biondi Prates, relata que a inciativa foi de ousadia. “O Inaper não é apoiado por nenhuma instituição religiosa ou pública. Temos trabalhado de forma corajosa com apoio de amigos/as, familiares, colegas de trabalho, membros da Igreja Metodista em Carlos Prates e outras igrejas de Belo Horizonte”, disse Angelica.
Bastou uma única divulgação à época da inauguração, em 4 de janeiro. Com apenas três meses de funcionamento, o coordenador do Inaper, Juliano Luiz de Paula, exibe com orgulho o resultado. “São 930 atendimentos gerais, 720 banhos, duas internações em clínicas de reabilitação, além de vários encaminhamentos bem-sucedidos para emprego”, disse.
A coordenação de Juliano tem sido fundamental para a instituição porque ele conhece de perto a realidade das pessoas que moram na rua. “O Juliano foi morador de rua durante muitos anos, usuário de crack, ex-presidiário e agora está lutando por uma vida digna e, ainda assim, tentando fazer diferença na vida de outras pessoas”, finalizou a presidente do Inaper, Angelica Biondi.
Várias igrejas metodistas realizam trabalhos semelhantes com pessoas em situação de rua. Na Igreja Metodista em Natal/RN, por exemplo, o projeto Igreja nas Ruas agora tem uma Kombi para sair durante a noite na distribuição de alimentos e agasalhos. “Com a Kombi, o sopão agora vai ficar melhor porque podemos atender mais pessoas”, disse o pastor Georg Emmerich.
A iniciativa gerou várias reações. “Um dos melhores trabalhos pastorais realizados na Região Missionária do Nordeste. Está entre os cinco melhores com certeza; inspiração, encorajamento e exemplo a ser seguidos”, disse Ricardo Cuchi.
Missão integral inclusiva
A pastora Kary Janaína, de Porto Ferreira/SP, tem dado palestras na 5ª e 8ª Regiões sobre o Ministério da Inclusão. A idealização do projeto foi dela e do pastor Enoque Rodrigo, ambos deficientes visuais. O que tem predominado, segundo a pastora, “são pessoas com síndrome de down”, mas a iniciativa é para atender todos que tenham alguma deficiência.
Em Porto Ferreira/SP, a pastora tem incentivado os membros com o ministério Somos Capazes. Sua proposta é incluir todas as pessoas deficientes que se sentem excluídas. “O projeto Nós somos capazes, além de contar com apoio dos membros, tem também uma parceria com a Associação de Escolas Reunidas (ASSER) daqui da cidade. Os/as alunos/as de pedagogia e de educação física são nossos suportes para trabalhar com pessoas com deficiência”, finalizou.
Escrito por: José Geraldo Magalhães