Publicado por Redação em Notícias, Opinião, Episcopal - 02/04/2018 às 10:03:44
No caminho da integridade através dos tempos
“Seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mateus 5.37)
Bispo Paulo Rangel dos Santos Gonçalves
Presidente da 1ª Região Eclesiástica
Desde o Antigo Testamento, Deus sempre se interessou pela proposta e pelo caminho da integridade. A Bíblia nos mostra infindáveis exemplos de homens e mulheres que basearam suas vidas e naturalmente suas condutas em agradar a Deus através do envolvimento puro e agradável com seus/as irmãos/ãs.
No livro de Gênesis encontramos a terra vivendo um caos terrível, fruto da malignidade e da corrupção que alcançou o coração humano. O próprio Deus faz uma constatação das mais terríveis se formos entender a partir da ótica pela qual o/a homem/mulher foi formado/a, para a Glória de Deus (Gn 6.5).
Destacamos em primeira mão a figura de Noé, no mesmo capítulo afirma que ele era justo, reto e íntegro entre seus/as irmãos/ãs. Noé era um homem envolvido com Deus a tal ponto que sua integridade de vida e caráter no relacionamento com Deus era expresso na vida em comunidade. Não temos dúvida alguma de que mesmo enfrentando a contrariedade de seus/as contemporâneos/as em virtude de ter ouvido, discernido e obedecido a voz de Deus, emparelhando uma arca para a salvação de sua casa (Hb 11.7), a vida de Noé nos inspira poderosamente a nos mantermos fiéis à voz que nos envia a sermos íntegros/as.
Assim como Noé tornou-se uma inspiração de conduta e de vida para as gerações futuras, nós também somos desafiados/as a inspirar pessoas a partir da condução de nossas ações. Uma vida de integridade não deve ser um peso que nos aprisione a uma imagem de perfeitos/as e imaculados/as. Na caminhada do discipulado cristão, a integridade é uma resposta a uma vida entregue à retidão e obediência aos princípios de Deus. Fortalecidos/as pelo desejo de ser semelhante a Ele e ao mesmo tempo partilhar esse testemunho com os/as que estão mais próximos/as de nós.
O salmista Davi era uma dessas figuras do Antigo Testamento que nos inspiram. Dentro da sua caminhada é muito fácil perceber desacertos e posições audaciosas que o levou a inúmeras conquistas. Mas é inegável o quanto nós aprendemos com sua integridade, seu coração puro e seu espírito submisso totalmente ao Senhor. O que importava para Davi era estar com o coração em pleno acordo com Deus. Isso fazia sentido na caminhada e no cumprimento de sua vocação.
Todos nós temos em nossa vida o nome de pessoas que se tornaram padrão de integridade para nós. Por aquilo que elas construíram na base de nossos relacionamentos, absorvemos diversas qualidades que nos ajudam a estabelecer relacionamentos sadios com nossos irmãos e irmãs. Isso sem dúvida é muito precioso e estabelece as bases para uma igreja que caminha e serve com integridade.
De maneira alguma podemos enxergar o ministério desses homens fora do caminho da integridade. É inevitável essa ótica, à medida que mergulhamos nos detalhes da vida de Noé e Davi, por meio de seus envolvimentos e relacionamentos com Deus e com as pessoas que estavam em sua volta. O que nos leva a entender que o caminho da integridade, inspirado por esses personagens bíblicos, ultrapassa o caminho do sucesso de suas estratégias e de seu potencial discursivo.
No Novo Testamento encontramos a figura do apóstolo Paulo, que envolve o seu ministério no serviço de viajar por vários lugares com o propósito de fortalecer o cristianismo e dar continuidade ao ministério de Jesus através de sua tarefa apostólica, estabelecendo as bases de uma igreja fortalecida no caráter e na integridade, cumprindo um serviço de ensino e instrução que deixava bem claro para onde o evangelho de Cristo deve apontar e não abrindo mão, em hipótese alguma, de dar instrução à igreja do Senhor.
O apóstolo Paulo, no seu zelo pastoral, escreve a Tito, seu discípulo, de uma forma bem instrutiva e espera que ele repasse, de uma forma muito clara e didática, aos diversos grupos de pessoas que estavam sob seu pastoreio (confere Tt 2.1-10). A profecia é um elemento de instrução, da mesma forma que o ensino nos instrui a cumprir algo que estava preestabelecido. A igreja fundamenta-se em algo estabelecido por Deus, e nessa caminhada acreditamos que, como Corpo de Cristo, os sinais que o mundo verá de integridade, justiça e amor estão inseridos em nossas relações.
Nossa expectativa é de que a igreja caminhe em integridade, afirmando ser necessário vivermos a obra de discipulado centrada em Cristo e nos seus mandamentos, sendo luz do mundo e sal da terra (Mt 5.13-14).
Diante disso, só nos cabe sermos influenciadores/as onde estivermos inseridos/as e ao mesmo tempo andarmos na luz de Deus em todas as nossas atitudes.
O mundo clama por servos/as com coração de discípulos/as, mas que andem com integridade em todas as suas ações.
Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão de abril.