Publicado por Redação em Notícia, Entrevista, Internacional, Nacional - 30/08/2016 às 14:24:01

Nayara Gervasio: os frutos colhidos no projeto Sombra e Água Fresca

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Arquivo Junta de Ministério Globais



Nayara Gervasio, 29, cresceu em um ambiente repleto de pessoas envolvidas com missão. Sua avó, Iracema de Lima Gervásio, já era voluntária em um projeto social da Igreja Metodista em Belo Horizonte (MG), quando o Programa Habitat da United Methodist Church (UMC) dos EUA, conseguiu um terreno para que novas casas fossem construídas em seu bairro, no início da década de 90. Com o programa, surgiu também a demanda pelo Centro Comunitário Metodista, onde então começou o trabalho onde hoje funciona o Sombra e Água Fresca (SAF). Foi aí que Nayara iniciou sua caminhada missionária.

Expositor Cristão: Como você começou a trabalhar na Missão Metodista?

Nayara Gervasio: A minha família foi beneficiada pela casa do Projeto Habitat, minhas tias trabalhavam no centro comunitário, minha avó foi voluntária lá no tempo da construção do centro comunitário do bairro de São Gabriel e uma das minhas tias era coordenadora da creche. Como eu não tinha nada para fazer, vivia enfurnada lá. Comecei cuidando das crianças menores do projeto enquanto as funcionárias da creche tinham um tempo de devocional, ainda na adolescência.

EC: E seguiu seu envolvimento com os projetos do SAF?
NG:
Em 2001 teve a proposta de formar um grupo de teatro, e apresentamos o grupo ensinado pelo Kebel (Cleber de Assis, facilitador do projeto) em vários lugares da comunidade. Nós éramos em oito adolescentes, e fizemos um grupo de jovens para comunidade em 2003, chamado “Grupo 100%” que chegou a ter 50 adolescentes, coordenados pelo meu irmão Davidson Gervasio. Íamos ao Projeto todo o sábado, e um tempo depois a Teca Greathouse veio com a proposta do projeto “Saúde é Vida”, o que trouxe uma estrutura mesmo para esses jovens. Aí todo o sábado tínhamos encontro à tarde, e cada dia vinha um facilitador diferente. Então tivemos encontro com médica, a Dra. Márcia Rovena, com a Ana Clara, filha dela, com orientações sobre comunicação, com o Kebel, a Dulce Léia que até hoje trabalha aqui no projeto e a Valquíria Nonata falando sobre cultura.

EC: Você estudou Administração da Universidade Izabella Hendrix como bolsista nesse tempo. Pode contar um pouco desse processo?
NG:
O novo reitor do Izabella conhecia a história da formação do bairro, por que quando começou o Projeto Habitat, ele foi uma das pessoas que ajudaram na formação do São Gabriel. Ele procurou o Gordon novamente perguntando sobre as pessoas do bairro, e nessa época já tinha o SAF. Inclusive, uma das nossas propostas era apoiar o SAF em suas atividades. Então o Izabella Hendrix abriu um programa de bolsas por demanda comunitária, e o reitor disse ao Gordon: “Fala para os meninos tentarem, e se eles conseguirem passar a gente vai tentar uma bolsa para eles aqui no Izabella”. Então nós fizemos um grupo de estudo duas ou três vezes por semana a noite, e uma turma passou! Fomos beneficiados com 100% da bolsa.


EC: Mesmo depois da faculdade de Administração no Izabella Hendrix, vocês continuaram envolvidos no projeto?

NG: Ah, a vida de todo mundo mudou, alguns começaram a trabalhar, outros casaram e o grupo não existe mais. Eu fico mais envolvida pois minha mãe é cozinheira no projeto. Sempre que dá um tempinho eu vou lá fazer o lanche para os meninos. Por toda essa minha caminhada, e da minha família por parte de pai, que é metodista, eu nunca acreditei que o cristianismo fosse só ir na igreja. Eu creio que por conta desse envolvimento da minha família com os programas, e pelo fato da gente ter sido abençoado mesmo, eu sempre falo para as pessoas que sou privilegiada de ter tido a oportunidade de conviver nos programas metodistas da forma que eu convivi por que me deu essa linha de pensamento de que não existe cristianismo sem justiça social. Como posso dizer que sou uma pessoa cristã e não fazer algo pelo bem do meu próximo?

EC: Você tentou exercer alguma outra atividade não relacionada a missões?
NG:
O meu primeiro emprego formal foi um estágio na Fundação Metodista. Apesar de ser um trabalho bem burocrático eu sabia que o resultado final daquilo que eu fazia, estava beneficiando alguém de alguma forma. Então eu não tinha muito para onde correr. Ou eu era missionária, ou eu era missionária.

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EC: Como o SAF te ajudou a entender seu chamado para missões?
NG: Eu acho que o SAF, principalmente na comunidade onde eu moro, é um Oásis. É um bairro muito carente, e o projeto dá às crianças uma noção do lugar delas no mundo, assim como grupo de jovens deu para mim. As crianças conseguem sentir que a vida é mais do que a gente tem aqui. Eu acredito que o meu momento foi há uns dois anos atrás. Eu trabalhava em um hotel, em uma vida muito loca com muito trabalho. Pedi férias durante o tempo em que os voluntários estariam em missão no projeto, e eu queria ajudar. No final da primeira semana do trabalho com os voluntários, eu estava exausta, meu corpo estava muito cansado, mas a sensação de fazer alguma coisa em benefício de outra pessoa, aliviava qualquer cansaço que eu sentisse. Lembro que teve uma noite que eu estava conversando no escritório, a respeito de trabalho. Falei que o que mais me cansava no emprego não era o trabalho em si, apesar de ser uma rotina muito cansativa. Era pensar que eu não estava trabalhando para beneficiar ninguém. Só estava trabalhando para deixar alguém mais rico. Isso me incomodava muito por que não enriquecia a vida das pessoas.

EC: Você fez um caminho até a junta de missões globais, mesmo sem saber fala inglês quando ingressou no programa?
NG:
Tinha uma missionária aqui, a Hanna Song da Coréia do Sul, e ela, a Teca e o Gordon Greathouse me falaram sobre o programa Generation Transformation. “Olha, talvez isso seja bom para mim”, pensei. “Mas como eu vou participar de um programa que é tudo em inglês? Vou deixar esse negócio de lado”, e deixei. Em 2014 adoeci no emprego por causa de stress e fui mandada embora. Em julho de 2015 os missionários voltaram, e no primeiro dia deles aqui durante a devocional colocaram a música “ Do Something”, do Matthew West para tocar, e pedi para minha prima, que falava inglês, traduzir depois para mim. Tem uma parte que pergunta “Deus, como pode haver tanta pobreza no mundo, e o Senhor não faz nada para mudar isso? ”, e Deus fala com essa pessoa “Eu criei você para ser resposta”. Via os missionários trabalhando e pensava como era legal sair do seu país para ir em outro país, então um dia um dos missionários do grupo me deixou um bilhete com o trecho de Romanos 15:13. E sabe quando você sente uma confirmação? Uma certificação? Acreditei que um dia poderia fazer missão assim também. A equipe do SAF me incentivou muito para tentar, apesar da falta do inglês. No natal de 2015, um missionário de Camarões falou que faria minha ficha para o programa. “Você sabe o que tem que fazer, sabe que é uma missionária, então o que te custa fazer? ”, ele me perguntou. Falei que não sabia falar inglês, ao que ele respondeu que não era o meu problema, pois ele mesmo me daria as aulas. Achei que não ia passar não, pois ainda tinha três entrevistas em inglês. Fiz todas e não entendi até hoje como eles me entendiam. Brinco que descia uma nuvem e eu falava em línguas, que no caso era o inglês. Tinha tão pouca fé que iria passar, que nem passaporte eu tinha para participar do treinamento nos EUA. Quando passei todo mundo me ajudou e consegui tirar a documentação, visto e ir esse ano. (Leia a tradução da música "Do Something" aqui)

EC: Poderia falar sobre a importância e participação do SAF nesse processo da sua vida?
NG:
Quando eu vejo o trabalho que eles fazem, principalmente na minha comunidade, eu percebo que todo o lugar no mundo tinha que ter um SAF! Eu vejo que uma criança que foi do projeto, hoje se tornou um funcionário oficial lá, depois de ter sido voluntário por um tempo. Percebo que o Sombra gera ciclos virtuosos nas pessoas quando vejo os meninos voltarem para o projeto e falarem “Tia, eu quero vir e ajudar a fazer alguma coisa”, porque eles entendem como aquilo é importante para geração depois deles. Apesar da gente só poder atender poucas crianças, eu olho para projeto e vejo que é um elemento transformador, ajudando a mudar a paisagem da comunidade. Os pais e envolvidos reconhecem o compromisso do SAF. Eu acho que o nosso grande problema no Brasil e no mundo é não olhar para as crianças do jeito que elas são. Se você não cria mecanismos de educação e proteção, elas ficam à mercê de qualquer um. Quando uma criança se sente amada e protegida, não é qualquer um que tira ela dessa zona de segurança, e eu acho que o SAF dá isso no sentido de educação cristã, por exemplo, quando elas entendem o amor de Deus por elas, e que naquele espaço elas podem se sentir amadas e protegidas. Segurança dá vida. Sou fã de carteirinha do SAF. No meu bairro, o espaço das crianças é o projeto!

O próximo passo de Nayara, que frequenta a Igreja Batista Nacional da Esperança, é seguir para El Salvador para trabalhar com os imigrantes, refugiados e famílias vítimas da violência na missão. Você pode conhecer melhor o projeto da UMC e ajudar o projeto da Junta de Missões Globais. Acesse aqui.

Escrito por Sara de Paula | Repórter EC
Publicado originalmente no Expositor Cristão de setembro | Acesse e faça download gratuito


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