Publicado por Redação em Notícias - 04/06/2018 às 13:31:52
Não foi Deus que derrubou aquele prédio!
Foto: AdaniloVerpa - Folhapress
No Dia Internacional da Cruz Vermelha, data marcada pela solidariedade e pela ajuda humanitária, trazemos aqui uma entrevista com o Sargento Diego, participante direto do socorro ao prédio que desabou no Largo do Paissandu, no dia 1º de maio. Diego é membro na Igreja Metodista em Santo Amaro.
Na madrugada do dia 1º de maio, a cidade de São Paulo acordou com a notícia do incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida, um prédio de 24 andares próximo ao Largo do Paissandu. Poucas horas depois, o edifício, que pertence à União, mas abrigava uma ocupação de moradores/as sem-teto, viria a desabar segundos antes de o sargento Diego Pereira conseguir resgatar, do 15º andar, o morador Ricardo Pinheiro.
Diego Pereira da Silva Santos é do 1° Grupamento de Bombeiros, quartel da Vila Mariana. Conversamos com ele e com sua esposa, Débora Ribeiro Martins Pereira, sobre a tragédia do dia 1º de maio e sobre sua profissão e caminhada cristã.
Durante a semana toda Diego deu entrevista a vários veículos de comunicação contando os momentos dramáticos vividos durante o combate ao incêndio e a preocupação com o resgate das pessoas. “Eu consegui escutar ele gritando por socorro, mas o prédio desabou faltando 30 ou 40 segundos para a gente acabar o processo”, disse Diego.
No dia anterior, Diego havia entrado no batalhão e, no período da manhã, reuniu o grupo para fazer a conferência da equipe, passar algumas orientações e também fazer uma oração. Ele nos conta o seguinte: “Quem orou naquele dia, naquele serviço, foi o soldado Freitas, que estava na equipe, e ele pediu para que Deus estivesse à frente, preparando todo cenário, preparando toda ocorrência que fôssemos atender. Pediu também para que Deus estivesse nos protegendo, que Deus estivesse conosco sempre”, ainda sem saber das proporções do evento que enfrentaria durante a madrugada.
Segundo declaração do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, em diversos meios de comunicação, o incêndio foi causado por um curto-circuito em uma tomada que ligava três aparelhos no quinto andar do prédio, na moradia de uma família com quatro pessoas. Uma imprudência que muitos de nós comentemos no nosso dia a dia, mas agravada ali pelas condições de habitação da ocupação, que aponta para um problema maior, a falta de moradia digna para muitos cidadãos e cidadãs nas grandes cidades, mesmo com o artigo 6º da Constituição Federal afirmando que a moradia é um direito social de todos os brasileiros e brasileiras.
O sargento Diego tem muita clareza dessa situação, quando declara que ficou muito chateado. “Infelizmente o prédio desabou e pegou fogo antes de desabar. Aquelas pessoas estavam morando em condições precárias e isso é o que me vem à cabeça. As pessoas que moravam lá já estavam sofrendo muito, o que me deixa mais chateado. E vem toda essa ocorrência, o incêndio, a vítima que estava do lado de fora pedindo socorro… Até chegar a esse momento, já teve muito sofrimento, mas foi só então que o mundo parou para olhar para aquele prédio, para aquelas pessoas”, desabafou Diego.
Diego é enfático ao dizer que “Não foi Deus quem desabou aquele prédio”. Ele pede para deixar isso bem claro. “Algumas pessoas podem achar que isso foi a vontade de Deus, que o prédio caísse, mas não, foi o livre-arbítrio do ser humano, é tudo questão do livre-arbítrio. Mas é tudo no tempo de Deus também, e para algumas pessoas é difícil entender isso”.
A fé e a família
Com uma fé firme e tranquila, Diego começou sua história com a Igreja em 2005, quando conheceu a técnica de enfermagem Débora Ribeiro Martins Pereira, hoje sua esposa, com quem teve a filha, Beatriz (9 anos), e o filho, Lucas (3 anos). O casal se conheceu na Praia Grande/SP, em um feriado em janeiro de 2005, quando Débora foi surfar e Diego era guarda-vidas. Ficaram amigos e o relacionamento caminhou para um namoro. Débora nos conta como foi o início do namoro. “Quando ele me pediu em namoro eu disse que a gente poderia começar a namorar na rua Conde de Itu, nº 99”. Esse é o endereço da Igreja Metodista em Santo Amaro, que tem um papel importante na vida do casal. Tanto Débora quanto Diego afirmam que a Igreja Metodista em Santo Amaro sempre foi uma família para eles, acolhendo-os em todos os momentos, tendo os membros da Igreja sempre junto, acompanhando-os em tudo.
Diego mudou-se para São Paulo e conheceu a família de Débora. Ele trabalhava como guarda-vidas temporário, mas ainda não era bombeiro. Prestou concurso, com o incentivo da namorada e da igreja. “Eu tinha 18 anos quando comecei a frequentar a Igreja Metodista em Santo Amaro, então foi tudo acontecendo de forma sincronizada. Eu comecei a frequentar a Igreja, gostei muito, as pessoas me acolheram muito bem, como se eu já fosse da família, me senti muito em casa. Ingressei no corpo de bombeiros aos 19 anos e comecei o curso de formação de soldados, mas continuei frequentando a Igreja. Em 2007 nos casamos e a minha conversão foi nesse meio-tempo”.
Débora conta que na vivência com as pessoas da Igreja, Diego ia vendo como era ser cristão. Ele fez sua profissão de fé, se batizou, aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador e, aos poucos, foi trazendo sua família. A fé firmada no coração do casal é expressa por meio das ações e palavras. De forma muito madura ambos encaram as dificuldades das profissões, tanto de bombeiro como de enfermeira, com alegria e verdadeiro sentido de servir ao/à próximo/a.
Débora relata que não é nada fácil ser esposa de um bombeiro. “Uma vez eu estava cansada do trabalho e falei ‘como você aguenta tantos cursos, trabalhar 24 horas?’, então ele me respondeu assim: ‘a diferença é que você faz aquilo que você gosta e eu faço aquilo que eu amo’. Essa foi a assinatura dele, de que ele ama o que faz mesmo, e é muito bonito de ver. Isso faz com que eu tenha paz, porque eu sei que ele faz com amor. Quando tem oportunidade, ele fala de Cristo. Ele relatou que em algumas ocorrências de tentativa de suicídio, até o endereço da Igreja ele passou para a vítima e a pessoa saiu estabilizada”, disse Débora.
O casal lembra de muitas situações difíceis, mas ressalta que Deus tem dado todo suporte por meio da Igreja. “A Igreja tem sido muito importante, o pastor Marcos (Marcos Antônio Garcia) tem sido bênção na nossa vida, ele tem sempre nos dado apoio, dado acompanhamento e está sempre presente com a gente”. São imensos os desafios da profissão, e geralmente os/as bombeiros/as chegam somente no momento final de uma sucessão de fatos que levaram até aqueles momentos cruciais, como o incêndio e queda do edifício e a tentativa de resgate daquele morador.
Rogério Silva | Comunicação da 3ª Região
Publicado originalmente no Jornal EC de junho