Publicado por Redação em Metodismo, Episcopal - 02/08/2017 às 11:38:14

A Missão Metodista nos séculos XVIII e XXI

Em 1744, na Primeira Conferência do Movimento Metodista na Inglaterra, chegou-se à conclusão de que Deus havia levantado o movimento para “reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra”.

Em suas Notas Explicativas, Wesley assim traduziu o texto de Mateus 28.19: “Ide e discipulai todas as nações”. Para Wesley, o mandato de Jesus não era para “fazer convertidos/as”, mas para “fazer discípulos/as”, pessoas nas quais fosse desenvolvido o caráter de seu mestre. Homens e mulheres que fossem levados/as a uma profunda e sempre crescente dimensão de santidade. Ou, no dizer do apóstolo Paulo, homens e mulheres que fossem “conformes à imagem de Jesus” (Rm 8.29). Wesley estava convencido de que ninguém deveria “sonhar em ser salvo através de qualquer fé que não produzisse santidade”. Podemos perceber pelo menos quatro tipos específicos de ação missionária em Wesley e nos/as Metodistas do século XVIII:

1. O ensino:

Wesley não estava satisfeito com a “natureza ímpia” das escolas de seu tempo. Por décadas ele dedicou-se à criação de uma escola onde pais cristãos pudessem matricular seus/as filhos/as “segundo os retos padrões do modelo cristão”; onde os/as professores/as fossem pessoas “verdadeiramente devotadas a Deus, que não almejassem nada na terra; nem prazer, nem facilidades, nem lucro, nem o louvor dos homens; mas simplesmente glorificar a Deus, com seus corpos e espíritos, da melhor forma que pudessem”. Nesta escola, “livre das corruptoras influências mundanas”, os/as jovens não apenas iriam encontrar esperançosamente sua salvação pessoal, mas a coragem e a firmeza de mente e propósito para se juntarem ao alvo de Wesley de “reformar a nação e em particular a Igreja”.
A proposta da escola era “ensinar as crianças mais pobres a ler, escrever e fazer contas, mas especialmente (com ajuda de Deus) a conhecer Deus e Jesus Cristo”. Quando a escola foi aberta, em 24 de junho de 1748, Carlos Wesley compôs um hino que continha as seguintes palavras: “vamos unir estes dois elementos, há tanto tempo separados, o conhecimento e a piedade vital”.

2. A ação social:

Wesley insistentemente relacionou santidade com serviço benevolente em favor dos/as sofredores/as e menos favorecidos/as. Para ele, uma vida santificada é uma vida através da qual o amor de Deus é derramado sobre o mundo. E o perfeito amor manifesta-se na vida do/a crente através de seu serviço de compaixão para com o próximo necessitado.

Em seu sermão sobre “Caridade” ele descreve os passos para o perfeito amor, baseado em I Coríntios 13.1-13. Ele escreve: “... São Paulo começa no ponto mais baixo que é o falar bem, e avança passo a passo; cada passo subindo um pouco mais alto do que o precedente até chegar ao mais alto de todos. Um passo acima da eloquência é o conhecimento. Fé está um passo acima do conhecimento. Boas obras estão um passo acima da fé; e ainda mais acima está o sofrer por causa da justiça. Não há nada mais alto que isso, exceto o amor cristão; amor por nosso próximo, fluindo do amor de Deus.”

Foi isso, entre outras coisas, que Wesley quis dizer quando afirmou que “não há santidade que não seja santidade social”, e que “reduzir o cristianismo tão somente a uma expressão solitária é destruí-lo”.

3. O testemunho de consagração pessoal:

A Inglaterra do século XVIII era um país corrompido política, econômica e socialmente. Os maus costumes estavam por toda parte. A escravidão negra era aceita sem censura, a exploração de mulheres e menores era frequente.

O povo metodista tomou atitudes objetivas a fim de encarnar a luz do mundo e o sal da terra em resposta a tal situação. Os membros das sociedades metodistas tinham o dever de dar testemunho pessoal e exercer uma influência cristã decisiva. Esperava-se que todos os membros, a partir de uma vida de santidade, saíssem em socorro aos/às necessitados/as onde estivessem: nas tabernas, nas prisões, nos hospitais, nas minas, nos casebres. Os/as metodistas não deveriam poupar esforços de serem úteis e bons/as cristãos/ãs.

John Wesley era um desses exemplos de consagração: quando sua renda era de trinta libras por ano, ele vivia com vinte e oito e doava duas. Quando passou a receber sessenta libras por ano, ele doava trinta e duas. Mesmo quando passou a receber cento e vinte libras, ele ainda retinha apenas vinte e oito para seu uso pessoal e doava o restante.

As regras do metodismo histórico estão mais atuais do que nunca. Contra as tentações materialistas/hedonistas, “ganhar tudo o que podemos, economizar tudo o que podemos e dar tudo o que podemos” parece uma fórmula imbatível.

4. A pregação evangelística:

A ênfase evangelística nas pregações e escritos de Wesley é forte. Para ele, o ministério da pregação evangelística era um imperativo moral: “Não podemos de boa consciência negligenciar a presente oportunidade de salvar almas enquanto vivemos…”.

Buscando ser fiel a esse imperativo, John Wesley pregava, em média, quinze sermões por semana. Uma frase comum de Wesley era “eu lhes ofereci Cristo”. Essa era a sua paixão. E nessa convicção ele disse o seguinte aos/às pregadores/as Metodistas: “Vocês têm uma tarefa e apenas uma: salvar vidas. Gastem-se nesse trabalho apenas e em nenhum outro”.

Creio que essas ênfases missionárias dos/as primeiros/as metodistas podem continuar inspirando os/as metodistas brasileiros/as no quinquênio 2017-2021: o ensino, a ação social, o testemunho de vida e a pregação evangelística.

Publicado originalmente no jornal Expositor Cristão de agosto/2017


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