Publicado por Redação em Reflexão, Igreja e Sociedade, Banner, Opinião - 05/05/2017 às 11:03:51

A educação como um ato de amor

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A educação é um ato de amor. Essa afirmação é de autoria do educador brasileiro Paulo Freire. A Pedagogia Freireana tem como um dos seus fundamentos o humanismo cristão. Por causa desse fundamento, o amor, em Freire, aparece como uma motivação para inserir o homem (categoria antropológica e não de gênero) no processo da educação.

Segundo Paulo Freire, a educação é capaz de humanizar o homem ativando nele a capacidade de torná-lo consciente da realidade em que está inserido. Tornando-se consciente do processo de opressão que sofre (luta de classes), ele será capaz de libertar-se e se tornará sujeito histórico de sua própria vida. Isto só é possível porque somente o amor é capaz de subverter os processos da degradação humana historicamente fundamentada pela lógica pragmática da luta de classes que desumaniza o ser humano.

Parafraseando Paulo Freire, intencionalmente afirmo que a educação teológica também é um ato de amor. A diferença é que, neste caso, o amor se refere ao próprio Deus, pois, segundo 1 João 4.7-21, Ele mesmo é AMOR. Javé é essencialmente um Deus pedagógico, sobretudo no evento da caminhada do deserto. Ele é um especialista na pedagogia do afeto. Javé é um Deus que transforma o ser humano através da pedagogia da graça.

É profundamente nítido como essa característica aparece no ministério de Jesus Cristo, sobretudo no processo discipulador. Assim, o discipulado como tarefa pedagógica é um ato de amor. Ser um/a talmidim (discípulo/a) no primeiro século significava não somente assimilar proposições pedagógicas, mas encarná-las em suas vidas assim como o amor é uma marca indelével no caráter de quem tem como padrão o discipulado como estilo de vida.

É neste sentido que a educação teológica desempenha um papel fundamental não somente para a expansão do Reino de Deus e o crescimento da Igreja, mas, sobretudo, para a formação humana. Como uma ramificação da educação cristã, ela é um processo dinâmico de transformação, libertação e capacitação da pessoa humana. A educação teológica não tem somente a tarefa de capacitar o ser humano para missão, mas educando-se teologicamente ele mesmo se encontra dos desencontros produzidos pela prática sistemática do pecado cotidiano.

Nos caminhos da missão

É nesta linha de raciocínio que nos caminhos da missão a igreja metodista em terras brasileiras, particularmente na Região Missionária do Nordeste, entende a educação como parte da missão, especialmente a educação teológica como ramificação da educação cristã. A educação como parte da missão oferece à pessoa humana e à comunidade uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida com uma prática libertadora, recriando a vida e a sociedade segundo o modelo de Jesus Cristo, que utilizou o amor expresso radicalmente em sua graça como plataforma de seu modelo de educação, especialmente no processo discipulador.

O quadrilátero wesleyano (bíblia, experiência, tradição e razão) aponta a bíblia como base e fonte inspiradora para o metodismo. A bíblia para nós, metodistas, é o grande manual de educação cristã. Por isso, não é de se estranhar que uma das marcas essenciais da identidade metodista seja a educação. Somente um modelo educacional que tem como fundamento o amor seria capaz de reunir crianças em situação de rua na Inglaterra do séc. XVIII não somente para educação cristã, mas para educação integral.

Umas das marcas da tradição histórica do metodismo nascente é que, embora se confira maior visibilidade ao nome de João Wesley, na verdade, o metodismo foi fruto do trabalho das mãos de diversas pessoas: Carlos Wesley e Suzana Wesley, por exemplo, são alguns desses nomes. Historiadores/as afirmam que a vocação do metodismo para educação teve origem na casa dos Wesleys, especialmente por causa da figura de sua mãe. Quero dizer com isso que o processo de educação nunca é feito sozinho.

Maturidade vem sempre de um processo de capacitação intenso e de amor pela missão. Sem capacitação para maturidade do autogoverno não seremos competentes na autoproclamação e, sem ela, muito menos alcançaremos o autossustento, por isso, é preciso caminhar com fé em Deus e com planejamento rumo ao desafio de ser uma igreja nordestina cada vez mais focada na tarefa de ser cada metodista um/a missionário/a, cada lar uma igreja, rumo à autonomia regional, tendo a certeza de que a educação é um ato de amor, pois o AMOR sendo o próprio Deus é capaz de transformar radicalmente a vida do ser humano que se encontra com Jesus de Nazaré, o Senhor das nossas vidas e Senhor da Região Missionária do Nordeste. Amém!

Pastor Ricardo Pereira da Silva | Diretor do CEMENE (Centro Metodista do Nordeste)
Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão impresso de maio/2017

/// Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri/SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

CARTA PASTORAL DO COLÉGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Discípulas e Discípulos da Missão. Formam uma comunidade de fé, comunhão e serviço. São Paulo: Biênio 2014-2015.

COLÉGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Cânones da Igreja Metodista. São Paulo: Cedro, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1980.

____________ Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra.

JAHREISS, Ulrich. Coletânea Nordestina Vida e Missão (03). Estudos sobre o metodismo. Recife/PE: REMNE, 1998.

RUNYON, Theodere. A Nova Criação: a teologia de João Wesley hoje. São Bernardo do Campo/SP: EDITEO, 2002.

KIVITS, Ed René. Talmidim: O passo a passo de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2012

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