Publicado por Redação em Notícia - 27/11/2023 às 18:09:08

Confederação Metodista de Jovens e a Saúde Mental

Me deparei esses dias no trabalho com o ditado “não se deve julgar até ter caminhado com os sapatos do outro”. Fiquei pensando no que implica esse caminhar. Podemos pensar que talvez colocando o sapato do outro, vamos conseguir caminhar da mesma forma, mas a minha forma de caminhar e pisar com o sapato é diferente. Já percebeu qual parte do seu sapato é mais gasta e comparou com a de um amigo? Alguns lascam toda a frente do sapato, outros a parte de trás, outros fazem furos na parte da sola do pé, e vários outros sinais de uso que aparecem com o tempo.

Quando usamos o sapato de alguém, ele pode ficar pequeno, ou maior do que o nosso pé. Pode não combinar com o nosso estilo. Pode não fazer sentido com o que eu pensei no princípio. Pode me machucar, pode me fazer tropeçar, escorregar ou cair. Ou posso me agradar, sentir conforto e gratidão por estar com aqueles sapatos.

Mas a questão que penso é: apesar do sapato ser o mesmo, o indivíduo é outro. Não se trata do mesmo conjunto, da mesma composição. Os lugares pelos quais a pessoa caminhou com aqueles sapatos não poderão ser percebidos em sua totalidade por você, mesmo que os calce. Você pode perceber as marcas, e entender a história de onde ela veio. Mas você não viveu aquela situação passada com as mesmas ferramentas e percepções que a pessoa tinha disponível naquele momento. Só ela pode te descrever isso e cabe a nós compreender. 

Ao pensarmos na saúde mental, isso é extremamente relevante. Ultimamente essa temática tem sido levantada e discutida com maior frequência, o que é um ponto positivo na conscientização da população. Percebemos diversos profissionais se levantando para abordar o assunto, campanhas como o “Setembro Amarelo”, e pessoas compartilhando suas histórias e testemunhos. Também vemos nos meios de comunicação sobre a quantidade considerável de casos envolvendo suicídio de jovens nos últimos anos e um crescente nos diagnósticos de ansiedade e depressão.

Frente a esse cenário, vemos jovens buscando apoio e amparo profissional para lidar com suas angustias e ansiedades, jovens procurando se entender e serem mais atuantes em suas realidades. Apesar dos diagnósticos serem apresentados como uma forma de nomear uma classe de sintomas que a pessoa tem apresentado, a classificação por si só não diz muita coisa pois existem diversos fatores a serem considerados e trabalhados em um acompanhamento clínico. Por esse motivo, não podemos ser definidos ou rotulados por um diagnóstico, apesar de ele ter a sua função clinicamente relevante.

 Nesse interim, precisamos partir do princípio de que cada vivência é única e que as pessoas interpretam as situações de maneiras diferentes. Nós adotamos padrões de comportamentos ao longo de nossas vidas que funcionaram e que continuam a funcionar para nós de alguma forma, mesmo que não consigamos interpretar o porquê no momento. Cada história é singular e tem as suas próprias necessidades. Por isso, não hesite em procurar ajuda ao notar estar com dificuldades em acolher e lidar com suas emoções. 

A emoção é natural e necessária ao ser humano, nos avisando quando algo está acontecendo. Em contrapartida ao que aprendemos, não existe emoção boa ou ruim, positiva ou negativa, mas sim emoções que geram sensações agradáveis conectadas a sensações de prazer e emoções relacionadas a sensações de desprazer, dor e perda. Todas possuem a sua função. Por isso, uma habilidade importante a se desenvolver é permitir sentir ou pensar o que se sente ou pensa, mesmo que haja desconforto. Uma vez que tentamos evitar ou nos esquivar dessas experiências internas desagradáveis, também nos privamos de muitas outras vivências significativas e emoções prazerosas. Ao encará-la, lembre-se que você não é a emoção que sente.

Diante de tudo, o convite que Deus nos faz é para uma nova vida, considerada loucura para os outros – e as vezes até mesmo para nós. Romanos capítulo 12, versículo 2, fala sobre sermos transformados pela renovação da nossa mente. Somos chamados para uma entrega das nossas percepções, entrega do que aprendemos. Jesus é o único que realmente calçou os nossos sapatos, mas afirmou que não veio para julgar o mundo mas para salvá-lo (Jo 12.47). Uma vez que fomos salvos e transformados por ele somos chamados a calçar os pés com a prontidão do evangelho da paz (Efésios 6.15). Há um novo caminhar, uma nova percepção, uma nova esperança.

 

 

 

 

 

Erika Fujita

6ª Região Eclesiástica

Integrante da Mesa da Confederação Metodista de Jovens


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