Publicado por José Geraldo Magalhães Jr. em Liderança - 29/10/2019 às 11:00:41
20 de novembro: um olhar na história
Em meio à demanda de temas tão complexos, presentes no panorama cotidiano de nosso ambiente eclesiástico e da realidade político-social brasileira, o mês de novembro permite um tempo para refletirmos sobre as questões relacionadas ao racismo e todas as formas de discriminação dele decorrentes.
Esse assunto, sempre recorrente nas relações sociais, pode parecer um tanto indigesto para ser tratado nos ambientes de reflexão proporcionados pela Igreja; notadamente pelo fato de que a realidade do racismo tem sido historicamente esvaziada em sua importância e, muitas vezes, negada a sua existência nos espaços evangélicos.
No entanto, a longa e contínua experiência da escravidão como modelo de organização social e de produção de riquezas fez-se pela reificação de povos originários do continente africano; arrastando-se desde a chegada dos primeiros contingentes de africanos/as escravizados/as, em 1539, até o decreto de extinção oficial da escravidão, em 1888, foram mais de três séculos de vigência deste modelo escravocrata que estabeleceu formas de relações sociais injustas e estratificando, de forma desigual, a população entre o segmento negro e pobre e a classe livre e branca, detentora de todo o poder econômico e político. Portanto, faz-se necessário considerarmos que a implantação do metodismo, em nosso País, deu-se na vigência do período da escravidão como um processo natural nas relações sociais. Os reflexos de longo e pecaminoso processo são evidentes em nossos dias, bastando um simples olhar em nosso panorama econômico-social e nos indicadores sociais da população brasileira.
Raízes libertárias do Evangelho
A luta contra o racismo e a discriminação sempre esteve presente ao longo de nossa história. Ela faz parte de nossa compreensão do Evangelho de Cristo que veio para trazer vida e vida em abundância. Precisamos lembrar, por dever de justiça e reconhecimento, que o Rev. Antonio Olímpio de Santana é um dos pioneiros nesta luta institucional contra o racismo e a discriminação, quer na Igreja Metodista, quer no mundo evangélico, quer nas relações ecumênicas; sendo o inspirador para a Pastoral Nacional.
O movimento metodista teve, sob a inspiração e ação de John Wesley, uma forte tendência libertária. Seu combate contra a escravidão e o tráfico de pessoas africanas estava alicerçado em sua teologia, em sua compreensão bíblico-doutrinária de que a função do evangelho é restaurar em cada pessoa a tríade imagem de Deus: a natural, que compreende a capacidade volitiva; a imagem política, que pressupõe cuidado e mordomia para com a criação; e a imagem moral, que se manifesta de forma relacional com Deus e seus/as semelhantes. Portanto, para ele, a escravidão era a maior vilania que se constituía na maior vilania que se poderia praticar contra qualquer ser humano.
Resistência e Esperança
A experiência de fé em Cristo é revolucionária, transformadora e arrebatadora, tal como o que aconteceu na Rua Aldersgate, Londres, quando o Rev. John Wesley sentiu “o coração estranhamente aquecido”. Esses elementos da experiência individual estabelecem um modo de ser cristão e cristã que não se limita a uma religiosidade que fica contida na esfera pessoal, privada, mas envolve aquilo que é pessoal e íntimo com aquilo que é comunitário e social.
Para Wesley, a experiência religiosa que gera amor e paz na alma transforma-se em frutos de não apenas evitar a prática do mal mas das boas obras, espalhando o bem e bem-aventuranças por onde andar e com quem estiver.
O Espírito de Deus, sobre o ministério de Jesus, define sua ação na sociedade: espalhar boas notícias a pessoas despossuídas, libertar pessoas cativas, tirar as algemas… Os traços da escravidão estão muito latentes em nossa sociedade, nas instituições, inclusive nas igrejas. Há que se vivenciar o evangelho libertador de Cristo; de denúncia e de anúncio.
Publicado originalmente na edição de NOVEMBRO de 2019 do jornal Expositor Cristão
*Reprodução parcial ou integral deste conteúdo autorizado desde que seja citado a fonte conforme abaixo:
[Nome do repórter], Expositor Cristão (Edição novembro de 2019)
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